Ansiedade

Edvard Munch
O medo da desgraça é pior que a desgraça.
Leib Lazarov

A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
Charles Chaplin


Viver  ansioso é viver com medo.

Apesar de haver algumas diferenças  conceituais entre medo e ansiedade, é importante deixar claro que essencialmente ansiedade é medo.

Convencionalmente, o medo é uma reação orgânica de alarme a uma situação imediata de perigo, que coloca o organismo em prontidão para fugir ou lutar. Passada a situação de perigo, o organismo retorna à sua condição normal, cessando os efeitos físicos e psíquicos gerados pela ameaça. Observe que toda a situação acontece no presente.

A ansiedade é um sentimento que antecipa uma situação de perigo. Também ela coloca o organismo na condição de fuga ou luta. Nesta condição, a ansiedade é um sentimento útil e necessário à nossa sobrevivência, pois nos chama a atenção antecipadamente para uma possível situação de perigo, nos permitindo agir refletida e previamente sobre ela, aumentando nossas chances de superar adequadamente a ameaça. Observe que aqui, a ação ocorre no presente mas refere-se a algo no futuro. Assim, a ansiedade é um sentimento de medo com relação a uma situação de ameaça porvir que, caso ocorra, nos provocará medo. Dito de outra forma, a ansiedade é um sentimento de medo do medo.

O problema com a ansiedade se dá quando ela é exagerada e constante. De uma forma bem simples podemos dizer que o ansioso é uma pessoa atormentada pela preocupação, tomada de um sentimento constante de que algo ruim vai acontecer. Isto de maneira bem simples, pois há condições em que a ansiedade assume formas bem mais terríveis.

Há seis tipos de transtornos de ansiedade. Procurei expor abaixo de forma resumida os sintomas próprios a cada um.

  • Fobia específica: É o medo de um estímulo (p. ex: cobra) ou situação específica (p. ex: falar em público). Neste caso, a crença é que a coisa ou situação é perigosa em si mesma. O que caracteriza a fobia é a irracionalidade do medo, pois ele não cessa mesmo sabendo que a cobra é de brinquedo, ou que a platéia a qual se dirigir é composta pelos melhores amigos.
  • Transtorno de pânico: É o medo de suas próprias reações fisiológicas e psicológicas a um estímulo. Normalmente é medo de ter um ataque de pânico. Quaisquer anormalidades, tais como tremores, suores, batimentos cardíacos acelerados etc são percebidos como sinais de um colapso iminente, de insanidade e até de morte.
  • Transtorno obssessivo-compulsivo (TOC): Obsessões (pensamentos, idéias ou imagens recorrentes, intrusivos e indesejados) e compulsões (comportamentos ritualizados que a pessoa se sente impulsionada a realizar repetidas vezes) atormentam quem sofre deste transtorno. As pessoas com TOC antecipam catástrofes e perda de controle.
  • Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): Ao contrário da fobia, aqui o medo não se refere a um estímulo ou situação específica. É um medo difuso e onipresente. Tudo é ou pode vir a ser uma ameaça. A pessoa com TAG se torna um preocupado crônico, vivendo num estado de constante alerta para problemas. 
  • Transtorno de ansiedade social (TAS) ou fobia social: Medo de ser julgado (e reprovado, rejeitado) pelo outro, em especial em situações sociais. Os sintomas incluem tensão extrema chegando a paralisia, preocupação obsessiva com interações sociais e uma tendência ao isolamento.
  • Transtorno de estresse pós-traumático: É um medo excessivo causado por um acontecimento traumático vivido anteriormente (p.ex: um acidente ou assalto). A pessoa revive a experiência traumática na forma de flashbacks ou pesadelos, passando a evitar situações que evoquem essas lembranças.

    Um comportamento característico do ansioso é a evitação. Ele passa a evitar as situações que, real ou imaginariamente, lhe causem as sensações desconfortáveis delas decorrentes. Essa constante evitação pode tornar-se um grande problema na vida prática, além do que mantém o ciclo vicioso da ansiedade, uma vez que impede a pessoa de aprender com a experiência.

    Se não tratado, um transtorno de ansiedade pode ser uma das mais devastadoras condições que uma pessoa pode sofrer.

    A boa notícia é que já aprendemos  muito sobre a ansiedade, e existem terapias capazes de tratá-la, inclusive sem fazer uso de medicações. Grande parte das pessoas que fazem o tratamento demonstram uma melhora significativa já no começo e tem sido capaz de manter a melhora indefinidamente.

    Referências:

    Barlow, D.H.; Durand, V.M. Psicopatologia: uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
    Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas - Coord. Organização Mundial de Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artmed, 1993.
    Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
    Gazzaniga, M.S.; Heatherton, T.F. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
    Leahy. R.L. Livre de ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2011.
    Myers, D. Introdução à Psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.